Texto: Débora Cristina B. M. de O. Santos
Sim, é isso mesmo que você leu. Um terceiro olho pode estar presente em alguns vertebrados. Mas calma, que o significado dele não é nada místico. O terceiro olho é uma estrutura fotorreceptora presente em espécies de peixes, anfíbios e répteis. Fica localizada no topo da cabeça (Imagem 1) e sua estrutura varia dependendo do táxon.
Imagem 1. À esquerda: órgão frontal em Rana catesbeiana (autoria: Esteban Alzate); e à direita: olho parietal em Tropidurus torquatus (autoria: Leonardo Merçon). Imagens modificadas.
Nem todos os répteis e anfíbios possuem o terceiro olho. Ele está ausente em tartarugas e crocodilos, sendo encontrado em uma grande quantidade de espécies de lagartos, assim como nas tuataras. As salamandras e alguns anuros adultos também não apresentam esse terceiro olho.
Em répteis, o terceiro olho é denominado olho parietal e possui córnea, lente e retina simples. Localiza-se em uma abertura entre os ossos parietais do crânio, chamada forame parietal, que é revestida por uma escama transparente. Na retina encontram-se células sensoriais (fotorreceptores), responsáveis pela captação de luz. Os fotorreceptores se comunicam com neurônios. Os axônios destes neurônios se juntam e formam o nervo parietal que segue até o sistema nervoso central.
No olho parietal a luz pode ter função inibitória ou excitatória sobre os neurônios que se comunicam com os fotorreceptores, dependendo do comprimento de onda e da sua intensidade. Os comprimentos de onda curtos causam inibição, enquanto comprimentos de onda longos excitam as células nervosas.
Em anfíbios, o terceiro olho é denominado órgão frontal e se localiza entre o crânio e a pele, em uma região que não possui pigmentação. O órgão frontal não possui lente, mas possui uma córnea simples e retina, onde se localizam os fotorreceptores. Como nos répteis, os fotorreceptores se comunicam com neurônios que se juntam, formando, nesse caso, o nervo frontal, que penetra pelo crânio entre os ossos frontal e parietal seguindo em direção ao sistema nervoso central.
O órgão frontal em anfíbios apresenta dois tipos de resposta ao estímulo luminoso: a resposta cromática e a resposta acromática. A resposta cromática apresenta inibição do nervo frontal em comprimentos de onda curtos, como a luz ultravioleta e violeta. De forma contrária, em comprimentos de onda mais longos, como na luz verde, o nervo frontal é excitado. A resposta acromática, por outro lado, é inibitória para todos os comprimentos de onda, ou seja, para a luz branca como um todo.
A fotorrecepção apresentada pelo terceiro olho pode exibir diferentes funções. Algumas espécies de lagartos podem usar o olho parietal para localização. A remoção do olho parietal também pode levar a um aumento do período de atividade e do tempo de exposição ao sol, o que pode influenciar a termorregulação, em Sceloporus, por exemplo. Em girinos, o órgão frontal influencia a mudança de coloração da pele.
O terceiro olho faz parte do complexo pineal, um conjunto de estruturas que se desenvolvem a partir do diencéfalo. O complexo pineal primitivo tinha função fotorreceptora. Essa função se manteve em alguns peixes, anfíbios e répteis. Nas aves e nos mamíferos adquiriu função endócrina (glândula pineal). Apesar do terceiro olho ser conhecido há mais de um século pela Ciência, ainda há muito o que se descobrir sobre suas funções.
Referências
BELTRAMI, G. et al. A sky polarization compass in lizards: the central role of the parietal eye. Journal of Experimental Biology, v. 213, n. 12, p. 2048-2054. 2010.
DODT, E. The parietal eye (pineal and parietal organs) of lower vertebrates. Visual Centers in the Brain, p. 113-140. 1973.
EAKIN, R. M.; WESTFALL, J. A. Further observations on the fine structure of the parietal eye of lizards. The Journal of Cell Biology, v. 8, n. 2, p. 483-499. 1960.
EAKIN, R. M. The third eye. Berkeley: University of California Press, 1973.
FREAKE, M. J. Homing behaviour in the sleepy lizard (Tiliqua rugosa): the role of visual cues and the parietal eye. Behavioral Ecology and Sociobiology, v. 50, n. 6, p. 563-569. 2001.
HUTCHISON, V. H.; KOSH, R. J. Thermoregulatory function of the parietal eye in the lizard Anolis carolinensis. Oecologia, v. 16, n. 2, p. 173-177. 1974.
KARDONG, K. V. Vertebrates: comparative anatomy, function, evolution. 8 ed. New York: McGraw-Hill Education. 2018.
Comments