Texto: Débora Cristina Medeiros
O sexo biológico é dividido em dois tipos: macho e fêmea. Os mecanismos que levam um indivíduo a apresentar um dos sexo faz parte da determinação sexual da espécie. Estes mecanismos podem ser exclusivamente genéticos ou podem ter influência do ambiente, como, por exemplo, a temperatura. Em répteis o sexo pode ser determinado tanto geneticamente, quanto pela temperatura, dependendo do grupo. Além disso, a determinação sexual não é uma dicotomia, mas um continuum, com alguns grupos tendo seu sexo influenciado por ambos os fatores.
Imagem 1. Padrões de determinação sexual dependentes de temperatura. A) Padrão FMF: fêmeas são produzidas em temperaturas extremas, enquanto os machos são produzidos em temperaturas intermediárias. B) Padrão FM: conforme a temperatura aumenta, o número de machos também aumenta. Padrão MF: conforme a temperatura aumenta, ocorre um aumento no número de fêmeas e, consequentemente, redução do número de machos. C) Conforme a temperatura varia, ocorre mais de um pico de produção de machos e fêmeas. Vermelho: fêmeas. Azul: machos. Retângulos hachurados: temperaturas pivotais. Autoria: A e B adaptadas de Warner (2011) e C adaptado de Martinez-Juarez e Martino-Mendoza (2019)
A temperatura não influencia igualmente todos os grupos que apresentam determinação sexual dependente da temperatura (DSDT). Existem diferentes padrões onde uma mesma temperatura pode produzir fêmeas em um grupo e machos em outro. Até mesmo variações intraespecíficas podem ser encontradas. Além disso, ocorre um gradiente, onde temperaturas extremas podem gerar apenas um dos sexos, mas em temperaturas intermediárias há o desenvolvimento tanto de machos quanto de fêmeas. Uma temperatura que produz uma razão sexual de 1:1 (mesma quantidade de machos e fêmeas), é chamada de temperatura pivotal.
Quatro padrões de DSDT se destacam: MF, FM, FMF e FMFM (Imagem 1). No padrão MF machos são produzidos em temperaturas mais baixas enquanto fêmeas em temperaturas mais altas. No padrão FM ocorre o contrário e no padrão FMF as fêmeas são produzidas em temperaturas extremas e os machos em temperaturas intermediárias, apresentando duas temperaturas pivotais. No padrão FMFM, dependendo da temperatura, podem ser produzidos apenas machos ou apenas fêmeas, e mais de duas temperaturas pivotais podem ocorrer. Variações destes padrões podem ocorrer, como, por exemplo, temperaturas intermediárias em um padrão FMF produzirem uma razão sexual em torno de 1:1, em vez de apenas machos.
A DSDT é encontrada nas duas espécies de tuataras existentes, em crocodilos, na maioria dos quelônios e em alguns grupos de lagartos, mas não em serpentes. O padrão de determinação sexual do tipo FM ocorre em tuataras e lagartos, o padrão MF ocorre em quelônios e o padrão FMF é apresentado por crocodilos lagartos e quelônios.
O sexo ser determinado pela temperatura não significa que não existem fatores genéticos atuando no desenvolvimento dos órgãos sexuais. Pode haver influência hormonal, epigenética, genética e até mesmo materna. Entretanto, os mecanismos fisiológicos de como ocorre a DSDT ainda não são totalmente conhecidos e a forma como o embrião reconhece a temperatura ambiente ainda não foi elucidada. A DSDT pode ter surgido várias vezes em diferentes grupos e apresenta grande plasticidade fenotípica, demonstrada pelos diferentes padrões que pode apresentar.
Referências
MARTINEZ-JUAREZ, A.; MORENO-MENDOZA, N. Mechanisms related to sexual determination by temperature in reptiles. Journal of Thermal Biology, v. 85. 2019.
VITT, L. J.; CALDWELL, J. P. Herpetology: an introductory biology of amphibians and reptiles. Academic press, 2013.
WARNER, D. A. Sex determination in reptiles. In: Hormones and reproduction of vertebrates. Academic Press, 2011. p. 1-38.
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