top of page

Tem sururu no telhado

Foto do escritor: Herpeto CapixabaHerpeto Capixaba

Texto: Bruno Batista

Revisão: Erika M. Santana



A Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta, abriga uma fauna exuberante e fascinante. Dentre suas muitas criaturas, destaca-se a caninana (Spilotes pullatus), uma serpente elegante e ágil que encanta observadores e pesquisadores. Neste artigo, vamos conhecer um pouco do comportamento reprodutivo desta espécie, explorando algumas das características que a tornaram uma mestra da sedução e da sobrevivência nas alturas.


A caninana é um exemplo clássico de como a evolução gera mudanças que permitem que os organismos se adaptem ao seu ambiente. O corpo esguio e musculoso da caninana, combinado com escamas que a auxiliam a ter uma excelente aderência, a torna uma escaladora habilíssima. Tais características morfológicas permitem que a caninana explore os recursos alimentares disponíveis nas copas das árvores, comportamento que também oferece proteção contra predadores terrestres.


Recentemente, pesquisadores descobriram que a habilidade de escalar da caninana também permite que ela realize outra importante atividade nas alturas: copular. A escolha de galhos altos para a cópula pode não ser por acaso já que, ao acasalarem nas copas das árvores, os indivíduos podem estar protegidos de predadores terrestres, ou menos visíveis a alguns predadores que voam.


A imagem mostra três indivíduos, dois no momento da cópula e um terceiro jovem que estava ali por perto. Detalhes da estrutura do hemipênis e o esperma. Foto: G. Brutti.



O ritual de acasalamento da caninana é um balé sincronizado de movimentos, cores e aromas. Os machos se aproximam das fêmeas, atraídos pelos feromônios liberados por elas, e o casal inicia uma dança elaborada que envolve contorções e posicionamento de seus corpos de forma que favoreça a cópula. Nesse balé, várias características morfológicas interessantes presentes na caninana (e em  outras espécies de serpentes) são utilizadas.


Os machos da caninana possuem um órgão copulatório duplo, o hemipênis, que se adapta perfeitamente ao corpo da fêmea durante a cópula. Os feromônios liberados pelas fêmeas no ambiente funcionam como um perfume irresistível que atrai os machos. Tais sinais químicos são essenciais para a comunicação entre os indivíduos e para a sincronização do ciclo reprodutivo. Não se sabe ainda se as fêmeas de caninana tem hemiclitóris como outras espécies da mesma família (por exemplo, Helicops polylepis e Lampropeltis abnorma, Folwell et al. 2022), mas é possível que sim. Após a cópula, a fêmea deposita seus ovos em um local seguro, como um oco de árvore ou um buraco no solo. Os filhotes, ao eclodirem, já são independentes e capazes de caçar.


Ao descreverem a reprodução da caninana, os pesquisadores ressaltam a importância da observação desse comportamento de cópula nas alturas para compreender o uso do habitat pela espécie. Isso porque a maior parte dos relatos de cópulas da caninana são de cópulas no solo, e mesmo estes registros são escassos. O baixo número de registros de cópulas da caninana até o momento pode ser devido à frequente ocorrência dessas cópulas em em altos estratos arbóreos, o que dificulta sua visualização e registro. Para ter acesso a este artigo clique aqui.


A caninana desempenha um papel fundamental no equilíbrio dos ecossistemas da Mata Atlântica. Ao se alimentar de roedores e outros pequenos animais, ela ajuda a controlar as populações dessas espécies e contribui para a manutenção da biodiversidade. Porém, apesar de sua importância ecológica, a caninana enfrenta diversas ameaças, como a destruição de seu habitat, a caça e o tráfico de animais silvestres. A conservação da espécie depende da proteção de áreas naturais, da conscientização da população sobre a importância da biodiversidade e do combate ao tráfico de animais.



Referencias:


LOZORIO, A.; BRUTTI, G.; FROEHLICH, L. T. C.; SILVA-SOARES, T. Romance nas alturas: registro de cópula de Spilotes pullatus (Serpentes: Colubridae) na Mata Atlântica do Rio Grande do Sul. Herpetologia Brasileira, v. 13, n. 1, p. 168-175, set. 2024.

FOLWELL, M. J.; SANDERS, K. L.; BRENNAN, P. L. R.; CROWE-RIDDELL, J. M. First evidence of hemiclitores in snakes. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, v. 289, n.  20221702, dez. 2022.



60 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comentarios


Logo%20Comum_edited.jpg
Herpetorama.png
Herpetorama.png

©2019 by Herpeto Capixaba. Proudly created with Wix.com

bottom of page