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MACROSTOMATA: AS SERPENTES QUE COMEM PRESAS MAIORES DO QUE A BOCA

Texto por: Katarine N. Norbertino



Você certamente já se perguntou como algumas cobras conseguem se alimentar de presas maiores que a boca. O curioso é que, embora nem todas as Serpentes tenham essa capacidade, aquelas do grupo Macrostomata têm uma série de adaptações morfológicas que as permitem tal proeza.


O grupo Macrostomata é constituído pelas famílias Phytonidae, Acrochordidae, Tropidophiidae, Bolyeriidae, Boidae, Loxocemidae, Xenopeltidae, pelo clado Colubroidea (sensu Zaher et al., 2009), e por alguns fósseis (a exemplo Eupodophis, Pachyrhachis, Haasiophis). Uma das principais características do grupo é a presença de oito pontos de articulação entre os ossos do crânio (Imagem 1). Estas estruturas permitem um elevado cinetismo (ou elevada movimentação) e assim uma maior abertura da boca. A presença destes pontos de articulação possibilitam que os ossos da cabeça não fiquem totalmente associados, mas sim “soltos”, apenas se contatando. De tal forma que quando um alimento é relativamente grande comparado à boca, essas cobras conseguem englobá-lo com toda a cavidade bucal.



Imagem 1. Crânio de Macrostomata em vista lateral com ênfase (sinalização vermelha) em três pontos de articulação entre ossos. (Fonte: Klaczko et al., 2019. Adaptado).



Além dos oito pontos de articulação no crânio, as serpentes do clado Macrostomata possuem a mandíbula separada em duas partes (hemi-mandíbulas), característica conhecida como sínfise mandibular. Esta separação torna os ossos de cada lado da mandíbula independentes, o que permite uma maior abertura da cavidade oral e promove uma maior eficiência no avanço da deglutição da presa capturada.



Imagem 2. Lachesis muta com a boca fechada (a) e aberta (b). (Fonte: Bárbara Bachi).



Mas ter uma boca ampliável (Imagem 2) não significa necessariamente que as serpentes sempre optam por comerem presas grandes, nem mesmo que terão sucesso garantido em suas predações. Como todas as interações ecológicas, existem uma série de fatores que podem influenciar esses eventos. Um exemplo é o estudo de Rocha-Lima e colaboradores (2018), que registrou uma “falha” na tentativa de predação de duas espécies de anfíbios grandes (Boana faber e Leptodactylus latrans) por uma cobra-d’água (Erythrolamprus miliaris). Segundo os autores, o tamanho das presas e a reação delas ao ataque podem ter gerado um alto custo energético à cobra, fazendo a mesma desistir da predação.



REFERÊNCIAS


HARRINGTON, S. M.; REEDER, T. W. Phylogenetic inference and divergence dating of snakes using molecules, morphology and fossils: new insights into convergent evolution of feeding morphology and limb reduction. Biological Journal of the Linnean Society, v. 121, n. 2, p. 379-394, 2017.


KLACZKO, J. et al. Atlas Fotográfico de Anatomia Comparada de Vertebrados - Volume IV: Sistemas Esquelético e Muscular. Brasília: Universidade de Brasília, 2019.


ROCHA-LIMA, A. B. C. et al. Erythrolamprus miliaris orinus (Reptilia, Squamata, Dipsadidae): tentativas de predação de Boana faber e Leptodactylus latrans. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi-Ciências Naturais, v. 13, n. 3, p. 455-460, 2018.


SAZIMA, I. Presas grandes e serpentes jovens. Mem. Inst, Butantan, v. 52, n. 3, p. 73-79, 1990.


UETZ, P.; HALLERMANN, J.; HOSEK, J. The Reptile Database. 2021. Disponível em: <https://reptile-database.reptarium.cz/advanced_search?taxon=crocodylia&submit=Search>


ZAHER, H. et al. Molecular phylogeny of advanced snakes (Serpentes, Caenophidia) with an emphasis on South American Xenodontines: a revised classification and descriptions of new taxa. Papéis Avulsos de Zoologia, v. 49, p. 115-153, 2009.




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