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Foto do escritorHerpeto Capixaba

LÁGRIMAS DE TARTARUGAS

Texto: Katarine N. Norbertino


Já parou para se perguntar como alguns organismos marinhos suportam altas taxas de salinidade? Ou como que, em ambiente marinho, as células de alguns animais não desidratam pela presença de sal? Estas dúvidas certamente motivaram muitos cientistas que se aventuraram na busca de uma melhor compreensão sobre a fisiologia de determinados organismos.


Chamamos de osmorregulação a capacidade que algumas espécies têm de controlar os níveis de sais diluídos no próprio corpo. Ou seja, caso o ambiente em que estejam possuam variações na quantidade de sal, seus corpos permanecerão equilibrados internamente em virtude dos mecanismos de osmorregulação, que é, em suma, o controle da quantidade de sais que se encontram no sangue.


Para organismos marinhos, as altas taxas de salinidade do ambiente sinalizam uma barreira que precisa ser superada. Dessa maneira, tartarugas marinhas apresentam uma ferramenta super interessante para lidar com o problema: a glândula de sal.

Imagem 1. Ilustração indicando o local e posicionamento (destacado em vermelho) da glândula de sal em quelônios marinhos. Fonte: DIAS (2018).

A glândula de sal das tartarugas marinhas é uma estrutura peculiar localizada em torno das órbitas de seus olhos (Imagem 1). Ela possui coloração vermelho-amarronzada, com cavidades que se abrem na parte posterior do olho. De acordo com Dias (2018), as glândulas de sal tem formato saculiforme, dois ductos (um primário e outro secundário) e canais centrais.


A glândula de sal secreta um fluido que se assemelha a uma lágrima que é responsável pela excreção do excesso de sal que entra no organismo das tartarugas marinhas (osmorregulação). O fluido, nesse caso, contém basicamente cloreto de sódio (DIAS, 2018). Quando comparadas com os rins (órgãos com a mesma função nos nossos corpos), as glândulas de sal apresentam uma eficácia muito maior. No processo de excreção pelos rins, parte dos sais são reabsorvidos juntamente com a água, o que não acontece nas glândulas de sal. Além disso, a concentração de sais no fluido das glândulas de sal é seis vezes maior do que na urina (2000 mOsmL), o que representa uma grande vantagem na conservação da quantidade de água no corpo das tartarugas. Porém, diferentemente dos rins, as glândulas só agem quando há demanda, expelindo o fluido ocasionalmente.


Portanto, se você ver uma tartaruga “chorando”, já sabe que não se trata de um “choro de emoção”, mas sim de uma consequência da osmorregulação nesses animais!


Sabe o que é mais curioso? Tais glândulas excretoras de sal não ocorrem somente nas tartarugas, mas também nos lagartos, serpentes marinhas, crocodilianos e aves. Entretanto, nesses outros grupos a glândula não se encontra na região orbital, mas sim em outras cavidades (nasal ou bucal). A existência dessas glândulas de sal é uma das muitas adaptações que ilustra como a conservação e o equilíbrio da água no corpo foi extremamente importante para a conquista do ambiente terrestre pelos répteis, uma vez que estes organismos teriam que se distanciar do meio aquático além de perder parte da água do corpo através da liberação de suas excretas nitrogenadas.

Imagem 2. Chelonia mydas nadando na superfície do ambiente aquático. Fonte: Beatriz Caldeira (@beacaldeiraf).


Evolutivamente, tudo indica que a ocorrência dessas glândulas em diferentes grupos é fruto de uma modificação independente. Mesmo assim, em termos de função, essas estruturas cumprem papéis similares em todas as espécies na qual ocorrem.

REFERÊNCIAS

DIAS, C. V. B. Caracterização histológica da glândula de sal da tartaruga-verde (Chelonia mydas) LINNAEUS, 1758. 46 f. 2018. Tese (Doutorado em Ciência Animal) - Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA), Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos de Goytacazes, RJ. 2018.

MELO, L. F. et al.Morphophysiology of the green-turtle salt gland Chelonia mydas (Linnaeus, 1758). Brazilian Journal of Animal and Environmental Research, v. 3, n. 2, p. 723-731, 2020.

SCHMIDT-NIELSEN, K. Fisiologia animal: adaptação e meio ambiente. 5 ed. São Paulo: Santos, 2013. 611 p.

SCHMIDT-NIELSEN, K; FANGE, R. Salt glands in marine reptiles. Nature, v. 182, n. 4638, p. 783-785, 1958.

MOYES, C. D.; SCHULTE, P. M. Princípios de Fisiologia e Anatomia Animal. 2 ed. Artmend, 2009.

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