Texto: Carolayne Santino
Revisão: Nathana Bressan
Imagem 1 - Acima, a serpente da espécie Boa constrictor (jibóia) com dentição áglifa (note os pequenos dentes todos do mesmo tamanho) e abaixo a espécie Philodryas olfersii (cobra-verde), com dentição opistóglifa. Fotos: Cristian Castro Morales, 2016 e Joel Sartore, 2024, respectivamente.
No reino animal, já estamos acostumados com o fato de existirem animais com dentições muito diferentes e únicas! Quem é que não lembra dos dentes do tigre-dente-de-sabre, embora já extinto? Ou de como são os dentes do hipopótamo, por exemplo? Ou os dentes do tubarão branco, ou os dentes gigantes das morsas? São tantos exemplos que é quase impossível citá-los. Esse papo sobre dentes é uma introdução ao assunto principal dessa matéria: a dentição das serpentes! Você sabia que existem quatro tipos específicos?! Continue lendo para saber quais são e entender a etimologia por trás de seus nomes!
Dentição Áglifa
Os dentes estão dispostos uniformemente na boca e não há um dente específico para inocular o veneno. As serpentes com esse tipo de dentição pertencem à família Colubridae e Boidae, sendo que na primeira, podem ter algumas espécies peçonhentas, já a segunda família, é onde encontram-se a maioria das espécies não peçonhentas, como sucuris e jibóias, por exemplo. Etimologia: o nome “áglifa” vem do grego e é a junção do prefixo de negação “A” + “glyphós” = ”sem/ sulco”, ou seja, os dentes não têm sulcos/canais para a saída de veneno.
Dentição Opistóglifa
Os dentes inoculadores estão dispostos na parte superior traseira da mandíbula. É característica da família Colubridae possuir essa dentição, sendo a espécie Philodryas olfersii (cobra-verde) uma ótima representante. Etimologia: também do grego “opisthen” = atrás e “glyphós” = sulco/canal, significa que os dentes inoculadores encontram-se na parte traseira.
Imagem 2 - Acima, a espécie Micrurus corallinus (coral-verdadeira) com dentição proteróglifa alimentando-se de uma presa e, abaixo, um espécime do gênero Bothrops durante o processo de extração de veneno. Note a gotícula saindo de uma das presas solenóglifas e como ambas são projetadas para fora da boca, o que caracteriza a dentição. Fotos: nagylafachetti, 2024 e Instituto Butantan, 2021, respectivamente.
Dentição Proteróglifa
Os dentes inoculadores encontram-se bem à frente na mandíbula e são facilmente distinguíveis visto que são pouco maiores que o restante dos dentes e são presas imóveis. A família Elapidae é detentora exclusiva dessa dentição, e a espécie Micrurus corallinus (coral-verdadeira) é referência de espécie brasileira. Etimologia: o prefixo “pro” refere-se a algo que está à frente, e junto ao radical grego “glyphós” obtém-se “proteróglifa” ou seja, os dentes inoculadores ficam à frente.
Dentição Solenóglifa
A dentição é exclusiva da família Viperidae (víboras) e, talvez, a mais conhecida. As presas inoculadoras são inconfundíveis pois são visivelmente grandes, móveis e estão bem à frente de cada maxila. Essas presas, por serem móveis, projetam-se na hora do bote. As espécies Crotalus durissus (cascavel), Bothrops jararaca (jararaca) e Lachesis muta (surucucu-pico-de-jaca), são as que melhor representam essa dentição dentre as serpentes peçonhentas brasileiras. Etimologia: do grego “solenos” = tubo e “glyphós” = sulco/canal, significa dentes com tubos escavados, por onde ocorre a liberação do veneno.
Imagem 3 - A imagem ilustrativa representa de forma didática e expressiva cada dentição. a) Solenóglifa; b) Áglifa; c) Opistóglifa; d) Proteróglifa. As setas indicam exatamente a presa e a posição que dá nome aos tipos de dentições. Fonte: imagem retirada e editada do site Museu da Amazônia, disponível em referências.
Gostou desse assunto? Aqui mesmo no site você pode conferir a nossa matéria de 2019 onde também foi falado sobre os tipos de dentição das serpentes com ênfase nos acidentes ofídicos que alguns deles podem causar com mais frequência, e a lista com algumas serpentes de importância médica. Link para a matéria “Mas ela morde?” https://www.herpetocapixaba.com.br/post/mas-ela-morde. Referências:
ALBUQUERQUE, Nelson Rufino de. Manual de identificação das serpentes peçonhentas de Mato Grosso do Sul. Campo Grande: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2022. 56 p.
HERPETO CAPIXABA (Espírito Santo). Mas ela morde? Entendendo os tipos de dentição das serpentes. 2019. Disponível em: <https://www.herpetocapixaba.com.br/post/mas-ela-morde>. Acesso em: 21 mar. 2024.
INSTITUTO BUTANTAN. São Paulo. Conheça as diferenças entre a vida das serpentes na natureza e no Butantan. 2021. Disponível em: https://butantan.gov.br/butantan-educa/conheca-as-diferencas-entre-a-vida-das-serpentes-na-natureza-e-no-butantan. Acesso em: 21 mar. 2024.
MUSEU DA AMAZÔNIA. Dentição. 2023. Disponível em: https://museudaamazonia.org.br/denticao-das-serpentes/. Acesso em: 20 mar. 2024.
ORIGEM DA PALAVRA. Palavra opistóglifo. Serpentes. 2014. Disponível em: https://origemdapalavra.com.br/palavras/opistoglifo/. Acesso em: 21 mar. 2024.